Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Faz hoje 45 anos que o PCP fez de mim um preso político



No dia 28 de Maio de 1975, forças do COPCON (Comando Operacional do Continente), comandadas por Otelo Saraiva de Carvalho, mas cumprindo ordens de Álvaro Barreirinhas Cunhal, na altura chefe do PCP, invadiram várias sedes do MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado), incluindo a sede nacional na Avenida Álvares Cabral (que liga o Largo do Rato à Estrela), em Lisboa, e prenderam, sem mandado judicial, cerca de 400 militantes daquela força politica que se encontravam a fazer trabalho politico em diversos locais.

Ao contrário daquilo que viria a fazer Otelo, uns anos depois (ironias do destino!?), os militantes do MRPP não faziam terrorismo. Não assaltavam bancos. Não eliminavam pessoas fisicamente. A sua luta era outra. Era a luta das ideias.

O MRPP tinha uma forte implantação na juventude, particularmente na estudantil, que enfrentava e assustava o PCP que queria instalar em Portugal um "paraíso" modelo soviético.

 - Otelo Saraiva de Carvalho -

Eu tinha 17 anos de idade, e fui um dos detidos. Estava a cometer o 'grave crime' de colaborar na feitura da secção cultural do "Luta Popular", o jornal do Movimento.

Já lá vão 45 anos, mas não consigo esquecer tamanha barbaridade.

Quando vejo dirigentes do PCP na televisão a falarem em falta de liberdade, fico revoltado com esses senhores.

Acontecimentos ocorridos no mesmo dia (28 de Maio de 1975), que ajudam a perceber o ataque ao MRPP:

- Manifestação de apoio ao MFA convocada pelo PCP, MDP e Intersindical, com discurso gratulatório de Costa Gomes (homem do PCP).

- Brigadeiro Vasco Gonçalves (homem do PCP) é promovido a general.

- Brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho (na altura leal ao PCP) é graduado no posto de general.

- Capitão Vasco Lourenço (homem do sector moderado, não alinhado ao PCP), porta-voz do Conselho da Revolução, assegura que o «processo revolucionário em curso não é propriedade de nenhum partido político».



- Álvaro Barreirinhas Cunhal, o prisioneiro que virou carcereiro -




quinta-feira, 21 de maio de 2020

Hoje é Quinta-feira da Ascensão/Dia da Espiga e é feriado em Salvaterra de Magos e em mais 30 municípios portugueses



Ascensão de Jesus

Para o consenso da maioria dos cristãos, a doutrina da Ascensão afirma que o corpo de Jesus, depois de quarenta dias da sua Ressurreição, na presença dos apóstolos, ascendeu aos céus onde se encontrou na presença de Deus Pai, não só em espírito, mas também em sua pessoa humana.

A documentação histórica é narrada nos evangelhos de Marcos (16:19) e Lucas (24:50-51), no livro dos Atos dos apóstolos (1:9-11) e na carta de Paulo aos Efésios (4:7-13). Este acontecimento é afirmado pela liturgia cristã, no Credo apostólico e no Credo de Nicéia.

Dia da Ascensão é tradicionalmente celebrado na quinta-feira, trigésimo nono dia após o Domingo de Páscoa. Contudo, algumas províncias católicas mudaram essa celebração para o domingo subsequente.




Dia da espiga ou Quinta-feira da espiga é celebrado no dia da Quinta-feira da Ascensão com um passeio matinal, em que se colhe espigas de vários cereais, flores campestres e raminhos de oliveira para formar um ramo, a que se chama de espiga. Segundo a tradição o ramo deve ser colocado por detrás da porta de entrada, e só deve ser substituído por um novo no dia da espiga do ano seguinte.

As várias plantas que compõem a espiga têm um valor simbólico profano e um valor religioso.

Crê-se que esta celebração tenha origem nas antigas tradições pagãs e esteja ligada à tradição dos Maios e das Maias.

dia da espiga era também o "dia da hora" e considerado "o dia mais santo do ano", um dia em que não se devia trabalhar. Era chamado o dia da hora porque havia uma hora, o meio-dia, em que em que tudo parava, "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam". Era nessa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga e também se colhiam as ervas medicinais. Em dias de trovoadas queimava-se um pouco da espiga no fogo da lareira para afastar os raios.

A simbologia por detrás das plantas que formam o ramo de espiga:
  • Espiga – pão;
  • Malmequer – ouro e prata;
  • Papoila – amor e vida;
  • Oliveira – azeite e paz; luz;
  • Videira – vinho e alegria;
  • Alecrim – saúde e força.

Na Quinta-feira da Ascensão é feriado nos seguintes concelhos:


Alcanena, Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Alvito, Anadia, Ansião, Arraiolos, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Beja, BenaventeCartaxo, Castro Verde, Chamusca, Estremoz, Golegã, Loulé, Mafra, Marinha Grande, Mealhada, Melgaço, Monchique, Mortágua, Oliveira do Bairro, Quarteira, Salvaterra de Magos, Sobral de Monte Agraço, Torres Novas, Vidigueira, Vila Franca de Xira.


terça-feira, 12 de maio de 2020

São estas palavras de José Régio que me guiam há 62 anos...




“Vem por aqui”- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali.
...
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos.
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: “vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí.
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos.
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios.
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou.
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
—Sei que não vou por aí!

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São estas palavras de José Régio que me guiam há 62 anos.
Mais precisamente desde as 7 horas de segunda-feira, 12 de maio de 1958. 

Contador, desde 2008:

Localizador, desde 2010:

Acerca de mim

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"Horta do Zorate" é um blogue pessoal, editado por Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo, fazedor desencostado, em autoconstrução desde 1958.