Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Sanatório Albergaria Grandella, Cabeço de Montachique, Loures




Quem conhece a zona sabe que existem umas ruínas que fazem lembrar um castelo, por ter essa forma, mas não se trata nada disso. As pedras estão dispostas dessa forma mas há uma história que se pode contar.
O edifício tem uma história muito triste e misteriosa. É, de facto, uma construção com 100 anos pois começou a ser construída em 1919, por vontade de um homem muito rico, Francisco de Almeida Grandella, dono dos famosos Armazéns Grandella, no Chiado, em Lisboa.
O homem era pessoa iluminada e muito atenta à realidade, sendo um notável comerciante e ainda maçon, dos que cuidavam dos seus e dos outros. Lembrou-se de construir ali um sanatório para tuberculosos, a doença da época e que matava tanta gente.
Como se entende o traçado arquitetónico é de evidente inspiração maçónica, com a estrela de sete pontas e os pilares que sustentam as lojas dos maçons, são os símbolos mais evidentes quando se olha para a estrutura edificada numa imagem aérea. Nada que fosse de admirar.
Naqueles tempos, esta era uma doença terrível e contagiosa, que ceifava vidas e de tratamento muito complexo. Naquele tempo, o Cabeço de Montachique ficava longe de tudo e ali seria o local ideal para a implantação de um sanatório. Sanatório Albergaria, foi o nome escolhido por Grandella.




Os problemas económicos que se seguiram à I Guerra Mundial deram cabo da vida de muita gente e este homem não escapou a esses problemas. Contudo o projeto tinha outros mecenas e a maçonaria terá providenciado uma coleta entre irmãos que reuniu uma soma considerável, suficiente para concluir o projeto.
O ano de 1921 trouxe um milagre, com o nome de vacina BCG, que combateu a bactéria que causava a doença e a tuberculose deixou de ser uma questão mortal. A morte chegou a esta ideia louvável e Grandella desanimou e desesperou. Segundo a lenda que se criou nessa época, o homem enterrou algures por ali um cofre com o dinheiro doado para a construção.
O terreno foi vendido e o novo proprietário nunca se pôs a cavar à procura dele. Quando comprou as ruínas tinha a ideia de fazer um lar para idosos mas entrou em conflito com a Câmara Municipal de Loures e não foi possível concretizar o novo projeto. É um sítio amaldiçoado, nada se constrói ali, pelos vistos.
Mais tarde projetou um hotel, aproveitando o traçado original e os materiais usados pelo arquiteto Rosendo Carvalheira com a traça original só que a ideia também não foi avante. Parecia que existia uma maldição que cobria a zona e não deixava avançar. Por fim decidiu colocar a propriedade à venda mas até hoje.... ninguém se chegou à frente para comprar.
Não deixa de ser curioso olhar para aquelas pedras, cheias de boa vontade, que nunca levaram a água ao seu moinho. Os antigos donos ficaram com a tristeza e sem ter alcançado a meta.




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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.