Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Guerra colonial: a emboscada inédita

Filmadas na Guiné, em 1969, por três jornalistas franceses, as imagens só agora foram reveladas. (Veja vídeo SIC no final do texto)




A manhã mal tinha nascido quando se deu o ataque. As explosões de morteiro atingiram os primeiros homens da coluna com tanta violência que em milésimos de segundos lhes arrancaram membros e todo o vestuário.

Durante cerca de 15 minutos os militares portugueses combateram um inimigo sempre invisível, escondido no meio do mato. Quando o som dos disparos das G3 portuguesas e das metralhadoras chinesas usadas pelos guerrilheiros do PAIGC finalmente abrandou, foi substituído por outro não menos angustiante. Os gritos de agonia de um dos homens atingidos de morte.

"Ele sentiu a morte e de que maneira. Ainda esteve mais de uma hora vivo, sem uma perna e um braço. Pediu para o matarmos, mas quem é que o matava... era muito difícil fazer isso mas sabíamos que ele estava a sofrer e bem".

Leonel Martins também foi atingido pelas armas dos guerrilheiros do PAIGC, mas teve mais sorte. Sofreu ferimentos graves numa perna, nos rins e no peito, mas sobreviveu.

Um maço de tabaco numa hora

Conta que acendeu cigarro atrás de cigarro enquanto esperava pelo helicóptero de socorro que andou perdido a sobrevoar o mato e levou quase uma hora e meia para encontrar o local.

"São daqueles momentos que nunca mais passam. E eu estava passado da cabeça, pronto. Fumei um maço de tabaco inteiro numa hora e mesmo depois, no helicóptero, já a soro, ainda pedi um cigarro ao piloto".

Esta emboscada aconteceu a 18 de outubro de 1969 na região de Bula, a cerca de 40 quilómetros de Bissau e tudo foi filmado pela câmara de três jornalistas franceses que conseguiram autorização de Spínola e do Governo de Lisboa para acompanhar o teatro de operações. Para os registos oficiais, representou apenas mais um episódio da guerra da Guiné, mais dois homens na lista de baixas, outros dois para a contabilidade dos feridos.

O filme, que poucos conhecem, é um dos registos mais dramáticos da guerra colonial que começou em Angola, a 4 de fevereiro de 1961. E foi visto no programa "Grande Reportagem" da SIC, que foi exibido domingo à noite.




Texto in Expresso online, 07-02-2011
Vídeo in SIC online
Foto in Google

2 comentários:

Anónimo disse...

Os que estão no poleiro é que decidem as guerras e o zé povinho é quem sofre e perde mais...O sistema politico não protege,escraviza o povo...os politicos são uma cambada de gananciosos e são poucos os que de facto se interessam pelas pessoas.
Cambada de chulos...

GALO de ARTILHARIA disse...

SAO SITUAÇOES QUE TAMBEM VIVI EM 1966 QUANDO NUMA EMBOSCADA PERDEMOS OITO CAMARADAS FOMOS SOLDADOS E FOMOS UMA JUVENTUDE QUE SE PERDEU NUMA GUERRA QUE PELA TEIMOSIA DOS POLITICOS DA EPOCA NOS OBRIGARAM FOMOS AS ESCURAS E FOMOS CARNE PARA CANHAO HOJE NAO A POLITICO QUE SE INTERESSE PELOS SEUS EX COMBATENTES ESTAMOS SOS E DESPRESADOS
A TODOS UM DESCANSO ITERNO
QUE OS SEUS CORPOS DESCANSEM EM PAZ

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.