Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

domingo, 5 de julho de 2009

D. Fernando "O Infante Santo"...


«O infante santo; 8.° filho de D. João I e da rainha sua mulher, D. Filipa de Lencastre. Nasceu em Santarém a 29 de Setembro de 1402, faleceu nos cárceres de Fez (Marrocos) em 5 de Junho de 1443. Era senhor da vila de Salvaterra de Magos e seu termo, com as jurisdições e padroados pertencentes à Coroa, tudo de juro e herdade. e para seus descendentes, por mercê de seu pai, feita na data de 21 de Agosto de 1429.


Foi educado com extremos de afecto, porque parecia ao princípio extraordinariamente débil e de pouca vida, mas nem, por isso foram menos perfeitos e cultivados o seu espírito e o seu carácter. Era ardentemente religioso, mas sem extremos supersticiosos. Empregava o tempo que lhe restava das suas práticas religiosas, em obras de piedade o no cuidado de sua casa e bons costumes dos domésticos, e na decência da sua capela, a qual enriquecia, apesar de ter rendimentos inferiores aos dos irmãos, de todos os paramentos, e fazia celebrar os ofícios divinos com magnificência. Por morte de João Rodrigues de Sequeira, foi-lhe dado o cargo de perpétuo administrador e governador da ordem de Avis, e dispensado para o ter, como teve em comenda, por bula de Eugénio IV, do ano de 1434. Este mesmo pontífice lhe mandou oferecer o capelo de cardeal pelo geral da ordem camaldulense, abade de Santa Justina de Pádua, D. Gomes Ferreira, núncio deste reino, o que ele recusou por humildade.


Contava já 34 anos nesta virtuosa quietação, mas como o seu ânimo não era menos cobiçoso de glória, nem sentia menor valor para adquirir, a exemplo dos irmãos, um nome honroso na milícia, e para acrescentar mais seu estado, intentou sair do reino e ir a Inglaterra convidado das promessas de seu tio, Henrique IV, porém conhecendo o esforçado coração do infante D. Henrique, seu irmão, com que sempre zelava e procurava grandes empresas, determinou passar com ele a África sobre a cidade de Tanger, e obtendo licença de el-rei D. Duarte, seu irmão, que ao principio tentou dissuadi-lo daquele propósito, preparou-se para a expedição. A armada saiu do porto de Lisboa em 22 de Agosto de 1437, comandada pelo infante D. Henrique. Chegados a Tanger, e preparado o nosso exercito, os moiros atacaram em tão grande numero, socorridos dos reis de Fez, Belez, Tabilote e de Marrocos, que, apesar de ao princípio se pelejar denodadamente, vendo-se em evidente risco de todos se perderem, foram obrigados a render-se e a capitular, ficando o infante D. Fernando no poder dos bárbaros, de quem furiosos se apoderaram em 17 de Outubro do mesmo ano, com 4 fidalgos e alguns criados que se ofereceram a acompanhá-los.


Primeiro foi encerrado numa torre, onde esteve alguns dias, depois o transportaram para Arzila, e ali sofreu muitas afrontas e impropérios dos moiros durante 7 meses sucessivos. No fim deste tempo, vendo o senhor de Tanger, Zalá Benzalá, que de Portugal tardava a resolução das capitulações e a entrega da praça de Ceuta, que nelas se havia tratado, considerando o cativo seu, o fez passar a Fez no fim do mês de Maio, entregando-o prisioneiro a Lazaraque, o moiro mais desumano e mais bárbaro, que então se conhecia. Encerrado numa estreita masmorra carregado de ferros, sofreu fome e sede, e dali saía obrigado a exercer as mais vis ocupações: limpar cavalos, varrer as estrebarias, a trabalhar na horta cavando, com o que trazia as mãos em chagas, etc. O infante sofria todos os tormentos com resignação e constância, e do seu cativeiro escrevia a seu irmão, el-rei D. Duarte, aconselhando-o a que não entregasse a praça de Ceuta, que era mais importante do que a sua vida. Este rigoroso cativeiro ou mais propriamente martírio, durou quase 6 anos, até que faleceu. Os últimos 15 meses que viveu; passou-os encerrado numa escura casa contígua à latrina do alcaçar, sem ter com quem falasse nem a quem se pudesse queixar. Sendo conhecida a sua morte, Lazaraque mandou embalsamar o corpo, e para maior desprezo e afronta para com o infeliz prisioneiro, o fez pendurar nu das ameias da muralha junto duma porta da cidade, atado pelas pernas com a cabeça para baixo; ali se celebraram jogos e festas em sinal de triunfo. Passados 4 dias foi metido num ataúde de madeira, e pendurado por cadeias sobre a mesma muralha, onde esteve muitos anos, até que no tempo de D. Afonso V, seu sobrinho, foi trazido a este. reino, não concordando os cronistas no ano, nem a forma como veio transportado. Esteve depositado em Lisboa no convento do Salvador, e dali se transferiu para o convento da Batalha com grande pompa, sendo acompanhado pelos prelados e grandes do reino, ficando na capela de D. João, seu pai, num túmulo de pedra, levantado como o do seus irmãos. Tem um altar particular onde se celebrava missa todos os dias. No retábulo está retratada a sua imagem com os grilhões, e nos vários sucessos de seus trabalhos. O infante D. Henrique também o mandou pintar no seu altar pela muita devoção que lhe consagrava. Sobre o seu túmulo está a sua estátua, em pedra. »




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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.