Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Obesidade mórbida pode ter origem em abusos na infância...



A obesidade mórbida, que afecta 300 mil portugueses, poderá ter origem em abusos na infância que não podem ser resolvidos com uma banda gástrica, cirurgia que pode ser prejudicial se não for acompanhada de apoio psicológico, sugere uma investigação do Departamento de Psicologia da Universidade do Minho.

O estudo foi realizado pela estudante Susana Silva e conduzido pela psicóloga Ângela Maia, investigadora nas áreas da depressão e do trauma, e identificou índices elevados de experiências adversas na infância de adultos com obesidade mórbida.
Em declarações à Lusa, a investigadora explicou que a ideia de averiguar se na origem da obesidade mórbida estão experiências adversas na infância partiu da constatação de que “comer de uma forma compulsiva pode ser uma forma de tentar resolver os problemas”. “Comer dá imenso jeito para resolver questões mal resolvidas”, disse.
A investigação visou “caracterizar as histórias de vida destas pessoas” (obesos), afirmou, confessando que sempre suspeitou que “a cirurgia bariátrica [colocação de uma banda gástrica] não resolve tudo”. As conclusões surpreenderam a investigadora, que estuda as trajectórias de vida dos indivíduos com história de abuso e trauma.
De acordo com o estudo, a que a Lusa teve acesso e que avaliou a prevalência de experiências adversas na infância numa amostra de 75 obesos mórbidos (com peso médio de 118,57 quilogramas) candidatos a cirurgia bariátrica, a esmagadora maioria (88 por cento) dos participantes relatou a existência de pelo menos uma experiência adversa. A maioria (51 por cento) dos inquiridos relatou pelo menos quatro experiências de adversidade.
Estes resultados apontam para uma “elevada prevalência de experiências de adversidade na infância e sugerem que o comportamento alimentar deve ser compreendido tendo em consideração a totalidade de vida do sujeito”, lê-se no estudo.
Por esta razão, Ângela Maia alerta para a necessidade de os doentes obesos terem um acompanhamento psicológico, antes, durante e após a colocação de uma banda gástrica contra a obesidade mórbida.
Isto porque, na sua opinião, a ingestão compulsiva de alimentos ocorre em períodos de maior ansiedade, que terão na origem as experiências adversas sofridas na infância. Com a banda gástrica, o indivíduo depara-se sem a possibilidade de fazer o que lhe diminui a angústia (comer). “Receio que alguns indivíduos fiquem pior, após a colocação da banda gástrica”, alertou.
O estudo visou apurar se os obesos em questão foram expostos a abuso emocional, físico ou sexual, bem como a violência doméstica, abuso de substâncias no ambiente familiar, divórcio ou separação parental, prisão de um membro da família, doença mental ou suicídio, negligência física e emocional.
Os resultados referem que apenas 12 por cento não foram sujeitos a qualquer tipo de adversidade, enquanto 88 por cento dos sujeitos que participaram neste estudo relatam pelo menos um tipo de adversidade e 47 por cento relatam cinco ou mais experiências adversas durante a infância.
O abuso físico, emocional, sexual, negligência física e emocional foram as experiências adversas mais descritas por estes obesos, sendo o primeiro relatado por quase metade dos participantes. O abuso sexual, “apesar de assumir valores mais baixos (onze por cento dos participantes), dada a sua gravidade, merece toda a atenção”.
Relativamente às situações familiares, o estudo apurou que a grande maioria dos sujeitos sofreu experiências de exposição a violência doméstica, abuso de substâncias e doença mental ou suicídio. Um número menor, mas bastante significativo, refere a prisão de um membro da família e de separação parental.
O estudo conclui que “existe uma elevada prevalência de experiências adversas ocorridas durante a infância”. “A maior parte dos sujeitos não era obeso durante a infância, o que reforça a ideia de que a obesidade está associada a factores ambientais e relacionais”, lê-se no estudo.
Por: Sandra Moutinho, Lusa /Público, 22-02-2008

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