Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 28 de junho de 2024

D. INÊS DE CASTRO



D. Inês era filha natural do nobre galego D. Pedro Fernandez de Castro e neta do rei de Castela; era prima em 2º grau do príncipe herdeiro D. Pedro, filho de D. Afonso IV e neto de D. Dinis.
Após a morte prematura do pai foi educada no castelo de Albuquerque (Castela) por Afonso Sanches, filho natural do rei D. Dinis, pelo qual este tinha grande estima, perante o ódio do filho legítimo D. Afonso IV.
Senhora de grande beleza, veio para Portugal em 1340 como dama de companhia de D. Constança, primeira esposa do futuro D. Pedro I de Portugal, o qual iniciou com ela uma relação extra-matrimonial e lhe concedeu doações, ainda em vida da rainha.
Após a morte de D. Constança, em 1345, a relação tornou-se mais sólida, correndo na corte o boato de que teriam casado secretamente.
A relação de parentesco, o receio de interferências da poderosa família dos Castro tanto na política de Portugal como na do reino de Castela, e talvez o ódio de D. Afonso IV pelo mentor de D. Inês, Afonso Sanches, convenceram o rei a aceitar o parecer dos conselheiros Alvaro Gonçalves, Pedro Coelho e Diogo Lopes Pacheco, condenando D. Inês à morte.
O assassínio, perpetrado pelos próprios conselheiros a 7 de Janeiro de 1355 na quinta do Infante em Coimbra, aproveitando uma ausência deste, desencadeou uma guerra civil entre pai e filho, que terminou por intercepção da rainha-mãe D. Beatriz com grandes cedências de poder do rei para com o D. Pedro .
Rei em 1357 após a morte do pai, D. Pedro I de Portugal não cumpriu a promessa feita no tratado de paz de perdoar aos assassinos de D. Inês, tendo conseguido através de uma troca de refugiados políticos com Castela a prisão de Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves, os quais mandou matar sob tortura; Diogo Lopes Pacheco, avisado, fugiu para França.
Tendo sido o rei D. Pedro I homem de hábitos desregrados e de grande promiscuidade sexual, pode-se atribuir à literatura, já com Camões mas sobretudo a partir do séc. XVIII, o mito dos amores com D. Inês.
No entanto Pedro, em vida, deu provas do maior desgosto pela morte de Inês.
Já rei jurou terem casado, o que se revelava de grande importância dinástica pela legitimação de dois filhos do casal, D. João e D. Dinis organizou impotentíssimas exéquias que transportaram os restos mortais da rainha de Coimbra para o Mosteiro Real de Alcobaça; para os acolher mandou fazer uma arca tumular que é o mais belo exemplar do género existente em Portugal, com altos-relevos lindíssimos de autores desconhecidos, e na qual existe a única representação fidedigna de Inês, escolhido para este trabalho recusando imagens fantasiosas do classicismo ou do romantismo; suportando o peso do túmulo podem-se ver esculpidas na pedra as cabeças dos três algozes, com corpos de animais.
Para si mandou fazer uma arca tumular idêntica que colocou exatamente em frente, para que no Juízo Final ao levantarem-se dos mortos os dois se reencontrassem imediatamente.
Atrás da sua cabeça mandou representar, numa roseta de pequenos altos-relevos de enorme qualidade artística, exatamente a sua história de amor.
Os túmulos foram vandalizados pelos soldados franceses de Massena em 1810 mas ainda conservam grande beleza.
Já o mito de o rei ter obrigado os cortesãos a beijarem a mão do cadáver não tem nenhum fundamento histórico.




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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.