Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sábado, 22 de junho de 2024

MEMÓRIAS - BAR/DISCOTECA 'O AVIÃO'




A incrível história do avião da Segunda Circular que acabou em bar de alterne.
Talvez ainda te lembres dele, mas provavelmente não sabes metade das histórias que escondeu até ser desmantelado.
Dos milhares de aviões que já aterraram em Lisboa, nenhum deve ter tido uma história tão incrível e rocambolesca como o avião da Segunda Circular Convair 880, que durante anos fez parte da paisagem desta via lisboeta.
Esse facto já seria caricato por si só, mas o aparelho guardava muitas mais curiosidades e segredos que, provavelmente, dariam um bom filme, talvez ao estilo de James Bond.
Desde logo, porque aquele modelo era uma autêntica raridade.
Construído por Howard Hughes (a personagem do filme “O Aviador”, de Scorsese) era bastante rápido e luxuoso, mas gastava muito combustível, por isso teve pouco sucesso comercial e deixou de ser produzido em 1962.
Mesmo assim, seduziu alguns famosos, com destaque para Elvis Presley, que comprou um semelhante e chamou-lhe “Lisa Marie”, o nome da sua filha.
Aliás, quando o Convair de Lisboa foi desmantelado, em 2008, só existiam oito iguais em todo o mundo e um deles era, precisamente, o do Rei do Rock.
Mas esse é apenas um detalhe sobre o jato comercial que chamava a atenção de todos os que passavam pela Segunda Circular, na zona da Portela.
Rezam as histórias da época que o aparelho estaria envolvido em negócios pouco claros, como relatou na época Mário Lino Silva, engenheiro aeroespacial do Instituto Superior Técnico de Lisboa:
"O avião fazia tráfico de armas e teve uma avaria técnica, tendo por isso parado no aeroporto da Portela.
Os pilotos esperaram uma semana, mas não receberam a peça que precisavam e foram embora, abandonando o avião.”
Depois destes episódios, em 1980, o Convair acabou ao abandono, até que a administração do Aeroporto de Lisboa decidiu leiloá-lo.
Este foi, então, arrematado por um empresário da noite que o levou para um terreno adjacente à Segunda Circular.
Mas como chegou até lá?
Mandaram fechar a estrada, só para o avião passar!
Já com uma nova vida, começou por ser um bar/discoteca “O Avião”, e depois foi transformado em restaurante que, diga-se de passagem, até teve algum sucesso inicial.
Afinal de contas, não era todos os dias que os lisboetas podiam jantar num avião a sério.
Mas o fator novidade acabou por passar rapidamente e o aparelho foi transformado em clube de striptease e bar de alterne.
Em dezembro de 2007, o dono foi assassinado, depois de uma bomba ter explodido no automóvel onde viajava.
Alguns meses depois, em abril de 2008, o aparelho acabaria desmantelado e as peças vendidas para serem recicladas.
Triste final, mas um jato com tantas história para contar.
A partir dessa altura, aviões mesmo só do outro lado da Segunda Circular, dentro do aeroporto.




Uma pequena curiosidade:
O editor deste blogue, que nos anos 80/90 foi produtor e apresentador de espetáculos, e também realizador de rádio, promoveu alguns eventos naquele atípico e bonito espaço.
De todos destaco o lançamento de um LP do 'Duo Terra Nossa', composto pelo António Moreno e o Filipe Neves, em 1993, cuja apresentação foi feita por mim e pelos ilustres homens da rádio Antena 1: Horácio de Carvalho e António Rolão.

 

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.