"Porque decidiram Bush, Blair e Aznar, nos Açores, a invasão do Iraque? A resposta pode estar numa condição conhecida como Síndrome de Hubris.
Nem a existência de armas de destruição maciça, nem a ambição de controlar o petróleo iraquiano. O que motivou a decisão de invadir o Iraque, tomada por George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar durante a célebre cimeira dos Açores em 2003, foi um transtorno comum entre os políticos no poder, a síndrome de Hubris.
Esta é, pelo menos, a teoria do neurologista e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico David Owen, que compilou no seu novo livro "In Sickness and in Power: Illness in Heads of Government During the Last 100 Years" ("Na doença e no poder: a doença nos chefe de Estado ao longo dos últimos 100 anos", numa tradução literal) as conclusões de seis anos de estudo sobre o cérebro dos líderes políticos.
A "doença" não está reconhecida pela Medicina, mas os sintomas são, segundo Owen, facilmente reconhecíveis: uma exagerada confiança dos líderes em si mesmos, desrespeito pelos conselhos daqueles que os rodeiam e afastamento progressivo da realidade. Quando as decisões se revelam erróneas, nunca reconhecem o equívoco e continuam convencidos que tomaram a decisão certa. "O poder intoxica tanto que acaba por afectar o juízo dos dirigentes", afirmou o político ao diário britânico "Daily Telegraph".
Foi este comportamento que, segundo o autor, levou Bush e Blair a descurar a reacção iraquiana às forças invasoras. "Estavam tão convencidos que a invasão do Iraque era a melhor opção e que receberiam as tropas de braços abertos que fizeram ouvidos de mercador às advertências dos políticos", considera Owen.
O exemplo do Iraque é o mais recente, mas a história revela inúmeros outros casos de "pacientes" afectados pela síndrome de Hubris. Neville Chamberlain (primeiro ministro britânico entre 1937 e 1940, Hitler e até Margaret Thatcher nos seus últimos anos no poder, todos eles foram atingidos pelo transtorno psicológico. Owen reconhece que também ele, no início da sua carreira política, deixou que o poder lhe subisse à cabeça - foi o mais novo ministro inglês dos Negócios Estrangeiros - embora sem nunca chegar aos extremos de alguns líderes históricos.
O fenómeno foi baptizado com o nome da palavra grega "Hubris" que designava o herói que, uma vez alcançada a glória, deixava-se embriagar pelo êxito e comportava-se como um Deus capaz de tudo. Em consequência, começava a acumular erros, encontrando a sua Némesis, que o devolvia à realidade."
in Expresso online, 26-4-2008
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