Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Espólio de Cardoso Pires doado à Biblioteca Nacional


"Lisboa, 09 Abr (Lusa) - Um auditório cheio aplaudiu hoje, na Biblioteca Nacional, a memória de José Cardoso Pires, unanimemente considerado um dos maiores escritores portugueses do século XX, na cerimónia de doação do seu espólio àquela instituição.
O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, que presidiu à sessão, congratulou-se com a homenagem a Cardoso Pires e à sua obra que, "no seu conjunto, se afirma como uma das mais importantes da Literatura Portuguesa da segunda metade do século XX".
"Devemos todos nós, leitores portugueses e falantes de português, ficar gratos à família de José Cardoso Pires pela generosidade demonstrada e pela oportunidade que nos concede de colocar à disposição dos especialistas e do público em geral os originais de muitas das obras do Autor", sublinhou.
O director-geral da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), Jorge Couto, elogiou o "acto de generosidade e civismo" da família do escritor e anunciou um investimento de "mais de cinco milhões de euros", nos próximos anos, na torre de depósitos onde são guardados os documentos à guarda da instituição.
"Não se trata de um espólio qualquer mas do espólio de uma das mais importantes figuras da Literatura do século XX (...), um cirurgião da palavra", frisou.
Depois da assinatura do termo de doação pela viúva do escritor, Maria Edite Pereira, e por Jorge Couto, procedeu-se ao lançamento da sua obra póstuma "Lavagante", recentemente publicada pelas Edições Nelson de Matos.
O editor, Nelson de Matos, aproveitou a ocasião para "fazer uma pequena surpresa" aos presentes e leu um texto inédito de Cardoso Pires, que ele leu há exactamente 25 anos, a 09 de Abril de 1983, quando lhe foi entregue o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), pelo romance "Balada da Praia dos Cães".
Em seguida, uma das filhas do escritor, Ana Cardoso Pires, responsável pela fixação do texto de "Lavagante" - do qual o Autor fez cinco versões - falou do escritório do pai que, ao longo da sua vida, "mudou várias vezes de espaço físico".
"Sempre com o mesmo desprendimento pela qualidade do mobiliário, sucessivamente recauchutado por ele próprio, para se adaptar às necessidades do momento - pormenores", recordou, porque "permanecia o importante: os livros e os papéis da memória".
"Por isso - observou - a cerimónia a que há pouco assistimos foi o lançamento da primeira pedra do novo escritório do Zé, agora com estantes novas e aberto a quem o queira conhecer".
Depois, foi a vez de a Professora universitária Maria Lúcia Lepecki, especialista na obra de Cardoso Pires, dizer umas palavras sobre o escritor, que conhecia desde 1966, ano em que começou a leccionar na Universidade de Minas Gerais.
"Eu leio e estudo o José Cardoso Pires há 42 anos e ele comove-me todas as vezes", declarou.
Quanto a "Lavagante", a Professora classificou-o como "um texto perfeitamente acabado" pelo que é para si "um mistério que ele não o tenha publicado" - "um mistério ou uma bênção", que tenha sido publicado agora, nos dez anos da sua morte.
Explicando que "o conto pede que o leitor preste atenção na frase e não na sequência, como no romance, porque o conto funciona como se fosse uma sequência só" e que, por isso, "exige muito do leitor", Lúcia Lepecki deixou um conselho:
"Leiam devagar. O José Cardoso Pires é para ler devagar - deixem as palavras entrar", rematou."



in Expresso online, 09-4-2008 (22:01)

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.