"São Paulo, Brasil, 23 Abr (Lusa) - A testemunha-chave do processo contra Avelino Ferreira Torres acusou terça-feira o ex-presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses de comandar um esquema de distribuição de diplomas falsos.
"Há colegas meus na Câmara que nunca atravessaram o Atlântico, nunca vieram ao Brasil e mesmo assim têm cursos em escolas brasileiras", acusou José Faria, momentos antes de embarcar num voo de regresso a Portugal.
"São pessoas que eram funcionárias dele (Ferreira Torres), o mentor desses diplomas, e que usaram esses cursos apenas para subir de categoria na Câmara", afirmou.
José Faria avançou que planeia denunciar os diplomas falsos e as supostas actividades ilegais do ex-presidente da Câmara Municipal.
"Contarei tudo o que sei. Chega, basta desse género de políticos no nosso país", disse aos jornalistas, em declarações no aeroporto de São Paulo.
Antes de embarcar, José Faria despediu-se do seu primo, o advogado José Manuel Pereira Mendes, que o acolheu durante os 16 dias em que permaneceu no Brasil.
José Faria embarcou às 22:30 horas (02:30 de quarta-feira em Lisboa), num voo da companhia Varig, com destino a Madrid, sem contudo ter assegurada uma protecção policial na sua chegada a Portugal.
A testemunha-chave não soube dizer qual será o seu destino quando aterrar na capital espanhola, se seguirá numa escolta policial para Marco de Canaveses ou se regressará a Portugal sozinho.
"Pedi e espero que me seja concedida a protecção policial. Espero que os policiais estejam à minha espera. Confio na Justiça Portuguesa", disse.
"Regresso com um pouco de receio porque ele (Ferreira Torres) é capaz de tudo. Ele não faz mal a ninguém, não bate em ninguém, mas pode pagar para alguém fazer isso", sublinhou José Faria.
José Faria voltou a afirmar que foi para o Brasil com a promessa de receber uma dívida supostamente contraída com o pagamento de impostos por negócios de que foi "testa-de-ferro" do ex-presidente.
"Acabei por não receber (a dívida) e me meter aqui numa novela em que provavelmente o objectivo era matar-me. Estou arrependido de ter vindo", afirmou.
A testemunha-chave acredita que a sua viagem fazia parte de um plano do ex-presidente da Câmara de Marco de Canaveses para o eliminar no Brasil.
Ao chegar ao Brasil, José Faria foi agredido por um homem chamado Moreno, supostamente a mando de Ferreira Torres.
Teve que fugir do agressor e permaneceu escondido, desde então, na casa do primo José Manuel Pereira Mendes, na cidade de Santos, a 100 quilómetros de São Paulo.
José Faria recuperou dos ferimentos causados pela agressão e mudou a data de regresso a Portugal.
Em declarações aos jornalistas na semana passada, Ferreira Torres negou qualquer envolvimento na deslocação de José Faria para o Brasil.
O ex-presidente da Câmara de Marco de Canaveses negou ainda a tese de José Faria, segundo a qual o teria convencido a ir para o Brasil "em troca do pagamento de 12.500 contos [62.500 euros] que devia às Finanças".
Ferreira Torres atribuiu a ida de Faria para o Brasil ao alegado facto de dever "mais de um milhão de contos" [cinco milhões de euros] a indivíduos de raça cigana que rotulou de "perigosos".
O ex-presidente classificou a testemunha-chave como "um homem doente" porque "hoje diz uma coisa e amanhã afirma outra".
Avelino Ferreira Torres começou a ser julgado, no Tribunal de Marco de Canaveses, na semana passada, pelos crimes de corrupção, extorsão, abuso de poder e peculato.
Assunção Aguiar, antiga secretária de Ferreira Torres, disse aos jornalistas que José Faria "gastava mais do que devia" e isso era a causa das suas dificuldades financeiras."
in EXPRESSO online, 23-4-2008
1 comentário:
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