"Jorge Coelho sempre me foi simpático. Sempre me pareceu um homem simples, de palavras simples para descrever uma ideia ou causa. Além disso, parece-me convicto, talvez o mais convicto dos socialistas.
Jorge Coelho tem as suas raízes na mesma zona que eu, pelo que deve ter ouvido muitas vezes uma frase que naquelas terras se diz: "Vergonha é não ter vergonha".
O dirigente socialista, sobretudo depois da sua estrondosa demissão de ministro das Obras Públicas na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios - declarando "comigo a culpa não morrerá solteira" -, tinha-se tornado, ainda, numa espécie de referência moral do PS, o homem com desapego ao poder.
Nunca perdeu, no entanto, a sua condição de eminência parda, de conselheiro dos líderes e, muito em particular, do actual.
Ao aceitar um lugar na administração da Mota Engil, Coelho não cometeu qualquer ilegalidade. No geral, não fez mais nem menos do que Ferreira do Amaral ou Pina Moura, os quais também - sublinhe-se - não cometeram o mínimo ilícito.
No entanto, a notícia de que Jorge Coelho ia para administrador da maior construtora nacional caiu que nem uma bomba.
Em parte haverá um preconceito. Muita gente acha que um socialista não pode ser um gestor. É bem possível...
Mas, acima de tudo, há um sobressalto, como que uma consciência súbita da possibilidade de Jorge Coelho nos ter enganado durante estes anos em que andou na política.
Os seus discursos éticos, a sua moral, as suas acusações a outros que antes dele fizeram o mesmo que ele faz, eram fogo-fátuo. Quem o elegeu tem uma dúvida fundada: escolheu alguém preocupado com o futuro do país ou alguém que se preocupava sobretudo com o seu futuro?
Utilizando as palavras e o estilo do próprio, poderíamos perguntar: qual o maior desígnio de Jorge Coelho: redistribuir riqueza por todos ou acumular riqueza para ele?
A verdade é que aquilo que Jorge Coelho fez não é estimável, não é bonito. É uma vergonha!
E é uma vergonha porque Jorge Coelho, um dos políticos mais marcantes dos últimos anos, dá mais uma machadada na credibilidade dos políticos.
Não saber limitar-se, não saber restringir-se, não ter um código de ética sólido e indestrutível, destrói milhões de discursos a defender a democracia.
Foi essa necessidade ética da "res publica" - actuar pelo exemplo, desinteressadamente - que ele, a quem quando ministro chamaram "caterpillar", arrasou agora sem qualquer vergonha."
Henrique Monteiro, Director do Expresso, 07-4-2008
1 comentário:
Concordo plenamente com o comentário do jornalista sobre este político.
Num País democrático não se pode agir assim, não se pode defender os mais desfavorecidos nos media, para depois o povo descobrir que o objectivo-mor, é apenas a luta pelos seus interesses.
Porque será que a Mota\engil ganhou quase todas, senão todas as concessões de SCUT quando este senhor estava no governo?
Para quando o afastar da política estes nobres Políticos sem vergonha nem moral, ou para quando, um movimento de cidadãos credivel, que force os partidos a serem coerentes.
Só assim, porque, sinceramente, nos partidos políticos, não sei quem é que ainda acredita.
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