
Passos Coelho tem-se multiplicado em entrevistas, dadas sempre na qualidade de putativo candidato à liderança do PSD.
Na mais recente dessas entrevistas - ver edição de domingo passado da revista Pública - o militante social-democrata falou do passado e opinou sobre a situação no PSD. Questionado sobre o que leu na juventude, começou por dizer que sempre leu "mais ensaio do que literatura".
Mais adiante esclareceu a ideia: "Queria coisas mais directas. Os autores existencialistas que problematizavam matérias sobre as quais eu também me interrogava".
E deu como exemplos Kafka, Sartre e até Voltaire: "Li Kafka muito depois da Fenomenologia do Ser, de Sartre. Li Voltaire muito mais cedo do que consegui ler Camilo ou Eça".
A crítica chegou de imediato. No mesmo dia, Pacheco Pereira respondeu no blogue Abrupto, ironizando sobre "a mania muito portuguesa do dropping names para mostrar cultura ". "Esta lista de leituras tem um pequeno problema para além da sua implausibilidade, é que não existe nenhuma Fenomenologia do Ser de Sartre, que eu saiba. Basta percorrer a lista de obras de Sartre para ver que não há nenhum livro com esse título, a não ser que seja um obscuro artigo que desconheço".
"Só quando não se faz a mínima ideia do que são estas obras, é que se pode falar assim delas, mesmo das inexistentes", remata.
Afinal o que existe é, isso sim, "O ser e o Nada - Ensaio de ontologia fenomenológica" (1943), de Sartre. Terá sido a este livro que Passos Coelho se queria referir? Fica por responder por ter sido impossível chegar a falar com o militante social-democrata. Para a história ficaram os concertos para violino de Chopin, referidos por Santana Lopes ou A Utopia, de Thomas Mann, que esteve na cabeceira de Cavaco Silva.
in JN online, 24-02-2009
Sem comentários:
Enviar um comentário