sábado, 2 de maio de 2009
O triunfo dos porcos...
Confessem, prezados leitores: têm a certeza absoluta de que não cheiraram ninguém hoje? Ninguém mesmo, nem meia-pessoa sequer? Não cheiraram ninguém nas últimas semanas, ou nos últimos meses?
Podem garantir então com infalibilidade governativa que não passaram as vossas sensíveis fossas nasais por nenhum sistema fecal suspeito? E já agora, quantos porcos conhecem? Quando foi a última vez que estiveram olhos nos olhos com um? Desculpem perguntar, mas por onde têm andado? Viagens a Cancún, empregadas mexicanas, primos em Tegucigalpa? Precisamos saber tudo.
Porque, vocês compreendam: nós queremos segurança, pelamo-nos por segurança. Os aeroportos já nos protegem de terroristas árabes. A ASAE defende-nos de restaurantes assassinos. Schengen é a nossa muralha contra imigrantes. Doenças, só as do sexo. Nem uma simples febre. Estava pois tudo tão arrumadinho, tão calculado até se ouvir soar o alarme. E o alarme tinha nome: os porcos. Esqueceram-se dos porcos. Pensaram nas vacas e nas aves, mas não nos porcos. Quem é que se iria lembrar agora que o perigo são os porcos? Só nos faltava mais esta.
Talvez toda a razão esteja do lado de José Saramago. Ontem, no DN, o nosso escriba nobelizado avançou com uma explicação persuasiva para o surgimento da gripe suína. A culpa, diz Saramago, é do capitalismo pecuário. Durante anos, os porcos habitaram em condomínios de granjas espaçosas e bem-tratadas. Hoje são 65 milhões de porcos obrigados a partilhar pão e leito num número exíguo de pocilgas. Resultado: o mundo já fede. Ou, por outras palavras, fizemos merda. Eu não sei nada. O que sei é que a confortável ilusão de segurança e invulnerabilidade com que nos habituámos a viver não passa disso mesmo: uma ilusão.
Pedro Lomba, DN online, 02-5-2009
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- "Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.
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