Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

domingo, 28 de junho de 2009

Herdade de Muge: há 400 anos na família Cadaval...

- Teresa Schönborn, condessa Schönborn-Wiesentheid e marquesa de Cadaval -


«Há cinco gerações que apenas mulheres Cadaval dirigem os destinos desta herdade: a de Muge, uma das maiores do Ribatejo. Hoje, a grande timoneira é uma marquesa e condessa: chama-se Teresa Schönborn-Wiesentheid e ainda tem ligações à família que possui o império Hermès.

Foi ao volante de uma carrinha de caixa aberta, a levantar muito pó pelo caminho, que Teresa Schönborn, condessa Schönborn- Wiesentheid e marquesa de Cadaval, mostrou ao DN a Herdade de Muge, também conhecida como Casa Cadaval. Tem cinco mil hectares, 800 cabeças de gado, uma coudelaria com 70 cavalos puro-sangue lusitano, vinha a perder de vista, vastos campos cultivados e uma zona dedicada à exploração turística.

No centro da propriedade - da família Cadaval há quase 400 anos - fica uma casa secular, palco de histórias fantásticas, onde Teresa Schönborn passou férias em pequena e onde vive desde 1982.

A ligação dos Cadaval à herdade de Muge é tão antiga quanto o próprio ducado. No início do século XVII, a propriedade estava nas mãos dos condes de Odemira, mas quando Maria de Faro (filha dos condes) se casou com D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.º duque de Cadaval (título conferido em 1648), a herdade passou a estar sob o domínio da Casa Cadaval, tendo nas últimas cinco gerações sido dirigida apenas por mulheres. Hoje, é Teresa Schönborn, marquesa de Cadaval, que assume os seus destinos.

Filha de Graziela Álvares Pereira de Melo, filha de Olga de Cadaval, e do conde alemão Schönborn-Wiesentheid, Teresa Schönborn nasceu e cresceu na Alemanha rural mas fala português escorreito sem vislumbre de sotaque. Em casa sempre conviveu com três línguas em simultâneo: o português, língua materna, o alemão, língua paterna, e o italiano, por via de ambas as avós.

"A mãe e o pai falavam italiano entre eles porque era a língua tanto da minha avó materna como da minha avó paterna. Depois, nós falávamos com a mãe em português e com o pai em alemão. A nós, não fazia confusão nenhuma, mas para quem via de fora devia ser muito estranho", conta, a rir.

Os contactos e as visitas a Portugal eram regulares: " Todos os anos, passávamos umas seis semanas de férias em Muge. A minha mãe, que dirigia a propriedade, vinha sempre 15 dias antes e ficava mais 15 dias além das nossas férias", lembra.

Proprietário de vastas vinhas na Alemanha, o conde Karl von Schönborn, marido de Graziela Álvares Pereira de Melo, tinha uma larga experiência na produção vinícola, conhecimentos que aplicou na propriedade ribatejana.

O conde sugeriu à sua mulher a plantação das castas cabernet sauvignon, pinot noir e trincadeira em parcelas separadas e devidamente identificadas. Na altura, foi pioneiro, hoje, trata-se de uma prática comum. A Casa Cadaval acabou por ser uma das grandes responsáveis pela sobrevivência da trincadeira, casta nobre tinta do Ribatejo.

Anos mais tarde, a revolução abateu-se sobre a propriedade ribatejana. A pressão da reforma agrária que se fazia sentir em força no Alentejo teve as suas consequências na herdade de Muge, que esteve em vias de ser tomada e escapar ao domínio de quase 400 anos dos Cadaval.

"Foram os empregados da propriedade que a defenderam de ser ocupada", garante a marquesa. A difícil situação política obrigou a família a mudar-se definitivamente para Portugal no início dos anos 80 e em 1998, após a morte da sua mãe, Teresa Schönborn assumiu os comandos da propriedade com empenhamento e muita paixão. Como nunca se casou, Teresa Schönborn costuma dizer a brincar: "Eu casei-me com Muge."

Pelo seu empenho, em 2008, recebeu o mais importante prémio para uma produtora de vinho - o prémio Mulher do Vinho 2008, na terceira edição dos Prémios Internacionais EVA, o único prémio gastronómico feminino internacional. Hoje, Teresa Schönborn tem uma visão de futuro baseada na continuidade do marco deixado pelos seus antepassados.»



- Fachada norte do palácio da Casa Cadaval, Muge -

Texto in DN online, 27-6-2009

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"Horta do Zorate" é um blogue pessoal, editado por Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo, fazedor desencostado, em autoconstrução desde 1958.