
O militante do PSD, historiador, cronista e comentador televisivo Pacheco Pereira foi entrevistado por Maria João Avillez para o jornal i. Mas proibiu a sua publicação depois de ter visto a manchete de sábado, deste mesmo diário, em que foi destacada uma citação de Luís Filipe Menezes: "Pacheco Pereira é a loura do PSD."
Eis o que afirma o visado, no seu blogue Abrupto: "Embora muita gente que os leia não se aperceba das pequenas vinganças e desconsiderações. A capa do i de hoje [sábado] é um bom exemplo. Não me pronuncio, como é óbvio, sobre a 'entrevista' de Menezes que está ao seu nível e que não me surpreende. Mas surpreende-me que um jornal que se pretende sério escolha uma frase insultuosa para título, e isso é de sua responsabilidade." E acrescenta: "Sucede que, na quarta-feira passada, o i tinha-me pedido uma entrevista de fundo. Por consideração com a Maria João Avillez que ma pediu, dei a entrevista, estando presente uma equipa de televisão e um fotógrafo do jornal. Mas enganei-me quanto à seriedade do jornal a que dei a entrevista, pelo que, a não haver um pedido de desculpas pela afronta, não autorizo a sua publicação, facto que já comuniquei à Maria João Avillez."
Ora a proibição anunciada por Pacheco Pereira não tem qualquer tipo de obrigatoriedade, de acordo com os especialistas que o DN contactou. Caso o deseje, o i pode mesmo publicar a entrevista realizada por Maria João Avillez. "Que me lembre nunca se colocou uma situação destas", começou por dizer ao DN Alberto Arons de Carvalho, professor de Direito e Deontologia da Comunicação do curso de Ciências da Comunicação da Universidade de Lisboa e deputado do PS. "Numa entrevista há sempre um acordo entre as duas partes, que combinam entre si onde é feita, em que moldes, etc. Depois compete ao jornal onde coloca a entrevista e se a puxa para manchete. Penso que o i tem o direito de publicar a entrevista, apesar de haver aqui também uma questão de direitos de autor, que é repartida entre o jornal e Pacheco Pereira. Mas é mais um direito moral", explicou Arons de Carvalho. E acrescentou ainda: "Contudo, este assunto tem contornos éticos. Luís Filipe Menezes queria mesmo achincalhar Pacheco Pereira. E este agora está a empolar a situação colocando o i como um jornal pouco aconselhável. Eu penso que o i cumpriu o que tinha a cumprir.".
Opinião similar tem o presidente do Conselho Deontológico dos Jornalistas. "Não acho que Pacheco Pereira possa fazer essa exigência, já que argumenta com uma questão colateral à própria entrevista que deu. Se o jornal quiser publicá-la tem todo o direito de o fazer", Orlando César.
Mário Bettencourt Resendes, provedor do Diário de Notícias, considera que a exigência de Pacheco Pereira não faz "qualquer sentido". E afirma: "A partir do momento em que dá a entrevista não tem o direito de proibir a sua publicação. Se o jornal tivesse uma posição crítica em relação a Pacheco Pereira já seria diferente. Não me parece que seja o caso."
O DN contactou, ao longo do dia de ontem, Martim Avillez Figueiredo, director do i, e Pacheco Pereira, mas sem sucesso até ao fecho da edição. Maria João Avillez não quis comentar a situação, tal como José Azeredo Lopes, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
in DN online, 23-6-2009
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